Por Luis Carreira*
Na II Guerra Mundial, Portugal não dispunha de um único navio-tanque, o que dificultava o abastecimento de combustíveis líquidos ao país, sobretudo depois de 1941. Competia, então ao Instituto Português de Combustíveis (IPC) assegurar o transporte de petróleo e seus derivados, feito então, com recurso ao afretamento de navios-tanques a países neutros.
Perante a dificuldade em obter combustível e meio de transporte, a Armada encomendou ao Arsenal do Alfeite, o primeiro navio-tanque Português o “Sam Brás”, de 4.875t dw.
Que em 1943 juntamente com outros navios-tanques, fretados aos espanhóis da Cepsa, abasteceram o País.
Terminada a guerra, o tráfego marítimo foi normalizado, mas importava preparar para o futuro. É elaborado o Despacho N.º 100, de 24 de novembro de 1945, visando reorganizar e renovar a Marinha Mercante, e garantir o abastecimento de produtos petrolíferos, foram então aprazados quatro navios-tanque (2 de 10.000t dw atribuídos à CCN e mais 2 de 12.000t dw, um para a SG e outro para a CNN.
O Despacho n.º 150, determinava a constituição de uma empresa armadora para operar os navios-tanque A 13 de Junho de 1947 foi constituída a Sociedade Portuguesa de Navios Tanques, SA, designada como SOPONATA, numa união das três principais companhias de navegação: CCN, CNN e SG, co, com as principais empresas importadoras e distribuidoras de combustíveis líquidos: Shell Company of Portugal, Ltd.; Socony – Vacuum Oil Company (posteriormente a Mobil); Atlantic – Companhia Portuguesa dos Petróleos; Sonap (Sociedade Nacional de Petróleos); Sacor (Sociedade Anónima Concessionária da Refinação de Petróleos). A frota de navios resultante dessa união, permitia uma autonomia do país na ordem dos 60%. O quinto navio-tanque foi o Alvelos Complementarmente, em 17 de agosto de 1951 a SOPONATA adquiriu, em segunda mão, um pequeno navio-tanque o Cláudia (638t dw), para servir necessidades locais.
Foi o início de uma empresa dedicada ao abastecimento de combustíveis ao País. Tarefa que desempenhou durante 57 anos, e como tal, considerada de interesse nacional. A SOPONATA cedo se tornou uma empresa de vanguarda, quer pela natureza das cargas, quer pelo tipo de navios a operar, onde espírito inovador e de “cultura empresarial” imperou e concorreu com a sua operacionalidade.
Por força das circunstâncias, a frota cresceu em número de navios em dimensão, com o consequente aumento de potência das máquinas, uns motores, outros a turbinas, para os movimentar, e as novas técnicas a utilizar. Das iniciais 10 mil tons de DW e dos 1500 HP, passando por navios, como o FOGO de 27mil TDW , 191 m CFF, com Turbinas de 10.500 SHP, que mereceu a designação, de ser um dos maiores navios, a passar o Canal Suez na altura, até atingir, com os 3 maiores navios nacionais, os da Classe N, de 323 MTDW, 346 m CFF e 22 m de calado, movidos a turbinas de 35 mil SHP. Em resumo uma frota que garantia as necessidades de abastecimento e de comercio nacional.
Para garantir a necessária operacionalidade, importava equipar navios com os meios tecnológicos, tal como formar as tripulantes. Se a Sonda, o Odómetro e o Radiogoniómetro eram equipamentos usuais, cedo os navios foram equipados com Radar, alguns dispunham do Deca Navigator, e do Loran. Com o advento dos Satélites, surgiram os SATNAV, mais tarde o GPS. As comunicações, disseram adeus aos emissores e à Chave Morse, substituídas por transmissão sistema de satélites e o Boletim Meteorológico passou a ser recebido por cartas isobáricas em Fac simile. “A navegação era alucinantemente eletrónica”, o ARPA (Automatic Radar Plotting Aid) avisava aproximação de navios. Atracar e fundear era feito com recurso ao equipamento Doppler.
O carregamento era calculado no Loadicator, as sondagens dos tanques eram indicadas no painel da central de carga, num adeus às esticas, vulgarmente designadas “cruzes de cristo”. A dimensão dos tanques tornou inúteis os famosos torniquetes, os “buterworth”, foram substituídos por canhões de lavagem acionados no sistema de rotação, por máquinas pneumáticas, onde o jato de água produzia uma elevada eletricidade estática, causadora de explosões, com perda de alguns navios. Para evitar tais desastres, foi introduzido o sistema de Gás Inerte, para reduzir a percentagem de oxigénio nos tanques, e o método de desgaseificação dos tanques era feito por ventoinhas, tornando obsoletos os tradicionais papagaios de lona, que captavam o ar para os tanques e que obrigatoriamente tinha de ser orientados conforme o vento predominante. Como o sistema de decantação das águas de lavagem dos tanques era de feita, por efeitos das diferenças de gravidade, obrigou à introdução do equipamento de centrifugação e as “águas sujas” a descarregar, eram controladas por um aparelho de medida dos ppm´s, a “caixa preta”, obrigatória por Convenção que preconizava o Crude Oil Wash, que tudo registado.
Perante tantos novos equipamentos, novas técnicas e regulamentações a SOPONATA, na sua cultura de empresa, optou por formar os seus quadros, tornando os eficazes e capazes profissionais.
Para quê? em 2004 e numa perspetiva de capital fácil, foi vendida por 415 milhões de US dólares, à General Maritime Co. (americana), perdendo se toda uma cultura empresarial, de que todos se orgulhavam, como se perderam os conhecimentos e a experiência transmitida pelos três, iniciais Comandantes Manoel Gonçalo Rosa, Dionisio de Jesus e Ciríaco Gouveia e transmitidos às gerações seguintes de “Soponáticos”, a que muitos, dedicaram parte da sua vida a servir Portugal.